Trump ameaça tirar EUA da NATO e avisa que Ucrânia deve esperar menos ajuda

por Inês Moreira Santos - RTP
Thibault Camus - Reuters

Na primeira entrevista após ter vencido as eleições, Donald Trump afirmou que os Estados Unidos podem sair da NATO se os aliados não pagarem mais. Entre os vários temas, sendo a imigração o de maior destaque, o presidente eleito advertiu ainda que a Ucrânia "provavelmente" devia esperar menos ajuda norte-americana.

Na entrevista ao programa "Meet the Press", da cadeia televisiva NBC News, gravada na sexta-feira e que será difundida este domingo (embora já tenham sido publicados excertos), Trump assegurou que os EUA deixarão a Aliança Atlântica a menos que os países aliados contribuam mais financeiramente.

“Se pagarem as contas, com certeza” mantém os EUA na NATO.

“Se pagarem as suas contas e nos tratarem de forma justa, a resposta é ‘absolutamente, ficarei na NATO’”
, repetiu.

A entrevista foi gravada na sexta-feira antes de Trump viajar para Paris, para estar presente na reabertura da Catedral de Notre-Dame e onde reuniu com os presidentes de França e da Ucrânia – encontro trilateral que, segundo Zelensky, foi “bom e produtivo”.

Ao “Meet the Press”, Trump disse que está a esforçar-se ativamente para acabar com a guerra, “se puder”, mas advertiu que a Ucrânia deve “provavelmente” esperar receber menos ajuda militar dos EUA quando tomar posse.

“Sim, provavelmente”, respondeu o futuro presidente dos EUA à pergunta da NBC News sobre se a Ucrânia deveria preparar-se para uma redução na ajuda norte-americana.
Mudanças radicais

Na entrevista modera por Kristen Welker, Donald Trump prometeu um esforço maior na deportação em massa, impor novas taxas e perdoar muitos dos condenados no ataque ao Capitólio. O presidente eleito anunciou mudanças imediatas e abrangentes após assumir o cargo a 20 de janeiro, como tentar acabar com a cidadania por direito de nascença.

Durante a entrevista, voltou a insistir que as eleições de 2020, em que foi derrotado pelo democrata Joe Biden, foram roubadas e explicou que as eleições deste ano apenas não seguiram o mesmo rumo porque o resultado da sua vitória foi “demasiado expressivo”. Contudo, ao contrário do que tinha prometido durante a campanha eleitoral, não falou em vinganças contra os adversários que acusa de o terem prejudicado politicamente e pessoalmente no passado.

“Não quero voltar ao passado. A retribuição será através do sucesso”, disse Trump, esclarecendo que não vai nomear um procurador especial para investigar qualquer situação que envolva o presidente Joe Biden ou a sua família.

“As pessoas gostam de mim agora, sabia?”, disse Trump, acrescentando: “É diferente da primeira vez — sabe, quando ganhei pela primeira vez, eu não era nem de longe tão popular como agora. E uma coisa que é muito importante, em termos de eleição, eu adoro ter vencido o voto popular, e por muito”.

Quanto ao perdão para os manifestantes de 6 de janeiro, Trump garantiu que vai acontecer no primeiro dia, argumentando que muitos sofreram tratamento excessivamente severo na prisão.

“Estas pessoas estão a viver no inferno”, disse.

Esta primeira entrevista de Trump à televisão pública após as eleições ocorreu na sexta-feira na Trump Tower, em Manhattan, onde falou durante mais de uma hora sobre os planos políticos que os norte-americanos podem esperar no próximo mandato.

O presidente eleito também prometeu expulsar todos os imigrantes em situação irregular, logo que tome posse.

“Penso que temos de o fazer. E é difícil. É uma coisa muito complicada de fazer”, explicou, quando questionado sobre se o plano era expulsar durante os quatro anos de mandato todas as pessoas com presença ilegal nos Estados Unidos. “Vai custar uma fortuna. Mas vou fazê-lo. Vamos começar com os criminosos”.

Prometeu ainda que não iria separar famílias, nos casos em que alguns imigrantes da mesma família estão legalmente e outros ilegalmente em território norte-americano, devolvendo todos ao seu país de origem.

“Eu não quero separar famílias. E a única maneira de o conseguir é mantê-los todos juntos e enviá-los todos de regresso”, disse Trump, durante a entrevista.

Donald Trump pretende, além disso, eliminar a cidadania por direito de nascimento – a proteção consagrada na 14ª Emenda, que garante a cidadania a qualquer pessoa nascida em território norte-americano.

Já no plano económico, disse que vai cumprir a promessa eleitoral de aumentar as tarifas de importação dos principais parceiros de comércio, e não assegurou que “as famílias americanas não vão pagar mais”, como consequência dessa medida.

“Não posso garantir nada. Não posso garantir o que vai acontecer no futuro”, reconheceu Trump.

Um dos planos é, segundo admitiu, aumentar o salário mínimo federal, mas frisou que terá de consultar os governadores estaduais, antes de tomar qualquer decisão.

Trump também prometeu que não irá impor restrições ao acesso a pílulas abortivas, deixando o tema do acesso à interrupção voluntária da gravidez a decisões dos legisladores de cada estado, quando falou sobre um dos temas mais divisivos da campanha eleitoral.
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